quarta-feira, 27 de maio de 2009

Escola! Para que serve?!



Em 2007 fiz um curso de licenciatura, onde era obrigatório o estágio em escolas. Como queria realmente conhecer a realidade de uma sala de aula me propus o seguinte compromisso: estagiar 6 meses e uma escola particular de classe média, classe média alta, na zona sul do Rio e os outros 6 meses em uma escola pública. Como o objetivo era comparativo, claro que peguei turmas da mesma série nas 2 escolas.

Bem, escola 1, particular, zona sul, mensalidade alta!!! O colégio é impecável, aulas começam no horário. Uma burocracia enorme para conseguir estagiar lá. O ensino é muito bom, os professores são ótimos! A relação professor aluno é tranqüila (até algum aluno ser contrariado). Na verdade a relação é de” igual-para-igual”. Eu, como estagiária, não podia dar aula sem a presença do professor. A educação dos alunos é questionável. Celulares tocam durante as aulas, eles conversam, respondem o professor. A aprendizagem é boa, as notas são razoáveis...

Escola 2, Estadual (Rio de Janeiro), zona sul, noturna. O estado da escola já assusta!!! Paredes pichadas, portas quebradas, sem a menor estrutura! O sinal toca e nenhum professor se meche!!! Depois de uns 20 minutos eles começam a ir para as salas. Os alunos não se manifestam muito, alguns continuam do lado de fora, outros dormem na sala. Quando comecei a estagiar La, a professora que eu acompanhava foi viajar com a família e eu fiquei quase 1 mês dando as aulas. E foi muito triste. A série era a 8ª! E eles não sabiam NADA! Não sabiam escrever, interpretar o texto. Eles não conseguiam entender uma fórmula simples como Velocidade= espaço/tempo. E não entediam mesmo. As avaliações eram super facilitadas, mas não adiantava! A gente entregava a prova e as perguntas vinhas “professora, o que é Cite”, “professora, como correlaciona coluna”. Alguns eram muito esforçados. Outros não davam a mínima importância. A figura do professor não representa muita coisa para eles, mas quando você demonstra um pouco de carinho a postura deles muda. Eles não sabiam conceitos escolares básicos, e isso me chocou.

Concordo com a idéia de que um adolescente, com o poder aquisitivo mais alto, tenha mais ensinamentos. Ele poderá ter aula de alemão, francês, poderá fazer outros esportes como esgrima, ou freqüentar um clube de futebol mais elevado. Mas é inadmissível que seja negado a uma criança, por ela não ter dinheiro, a educação MÍNIMA. Na lei temos as LDBs (lei de diretrizes e bases da educação) onde está escrito o mínimo que TODAS AS ESCOLAS têm quem ensinar para seus alunos! A base da educação. A escola pode fazer MAIS do que está escrito lá, mas não pode, por lei, fazer MENOS! E isso acontece, pois nesta escola pública estava sendo feito MUITO MENOS!

Conveniente?! É interesse do nosso sistema ensinar que é desfavorecido?! Vamos analisar! O aluno da escola 1 tem educação. Ele aprendeu o que ser cidadão, ele sabe o que são impostos, sabe a função de um governante. Ele passa as férias no exterior e sabe que no Brasil as coisas não são boas. Mas ele está em uma situação boa, ele tem dinheiro, bens, plano de saúde, escola particular, terá, certamente, um emprego no futuro... não precisa mudar nada para ele!

O nosso aluno da escola 2! Para esse está tudo ruim! Ele mora em um lugar inabitável, não come bem, não tem hospital, a escola está caindo aos pedaços, o pai é desempregado, a mãe faz alguns bicos! Ele trabalha de dia e estuda de noite! Não passa no vestibular e provavelmente terá um subemprego. Imagina o risco que esse menino não representaria para seus omissos governantes se ele tivesse instrução!!! Imagina se ele soubesse ler, escrever e interpretar! Se ele soubesse o significado de conceitos básicos como cidadania, governante, imposto, público. Ele teria onde reclamar toda essa insatisfação. Ele saberia onde ir e com quem falar! E falaria! E essa base da nossa pirâmide, que é enorme, iria reivindicar. Então é melhor mante-los assim, ignorantes! É mais seguro!
Li um trabalho fantástico que mostra isso muito bem:

Do projeto político do Banco Mundial ao projeto político-pedagógico da escola pública brasileira

Maria Abádia da Silva

Doutora em educação pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e professora adjunta da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UNB). E-mail: abadia@unb.br
“Nesta política de poder e de edificação de uma outra ordem geopolítica, econômica e social não há espaço para neutralidades, mas, sim, para os interesses. Não é um jogo para amigos e entre amigos. É um jogo de política de poder em que países ricos subjugam países em desenvolvimento. É um jogo em que há o predomínio concreto das nações avançadas, decididas a apropriar-se das riquezas sociais e ambientais dos países devedores. O crescimento é do capital e não do desenvolvimento humano e social. As relações são assimétricas, com forte tendência para desconsiderar os meios multilaterais de diálogo entre as nações.”

“Penso que é necessário, coletivamente, contrapor-se aos mandos e desmandos dos "iluminados" e recolocar o projeto político-pedagógico como um dos elementos da gestão democrática, de emancipação e justiça social. Contrapor-se e ousar é preciso!”
Contrapor-se e ousar é preciso! Escola não é veículo de manipulação! Não é o motor para alavancar o interesse dos mais favorecidos!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Questionar "dá trabalho"


A curiosidade, necessidade de entendimento e conhecimento de causas são características inerentes ao ser humano. Crianças não ficam sem respostas! Não se conformam com entendimentos vagos! Não querem explicações superficiais! Mas por que perdemos essa necessidade quando ficamos adultos? Por que aceitamos as coisas como nos são ditas? Por que acreditamos no que vemos e no que ouvimos?

Questionar é difícil... demanda tempo, estudo, gera frustração, inquietação. E as conclusões geralmente são negativas. Geralmente está errado, está manipulado, está distorcido.

Eis o grande motivo para perdermos a vontade de questionar! Tempo é dinheiro, já estudo muitas coisas e já está tudo tão ruim, para que me chatear mais?! Dá trabalho questionar!!!

A novela me distrái, o jornal me informa, a propaganda me mostra o produto, o mendigo é um vagabundo, o ladrão tem que morrer, a escola tem que educar, e o governo? Disso eu nem comento porque nada pode ser feito... viro um apolítico! Para que questionar? Se não vou poder mudar nada?!

Pensamentos como esses movem a nossa sociedade e fazem a engrenagem do sistema girar sem bloqueios.

Todos reclamam, mas poucos questionam! Todos sabem que está ruim, mas poucos querem ver o motivo! E ele, geralmente, é muito claro!